A aposentadoria do homem que prendeu poderosos
O outro lado do japonês
Ato publicado na segunda-feira (26) formalizou a aposentadoria, a pedido, de Newton Ishii, agente da Polícia Federal, que ganhou notoriedade como o condutor de presos poderosos – e alguns, até então, quase anônimos – como o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o primeiro a ser trancafiado pelo “japonês da federal”, em 14 de janeiro de 2015.
– “Até hoje não entendo porque existiu o apelido e a notoriedade, afinal vários colegas saíam nas ruas comigo. Talvez seja porque sou oriental e isso marcou” – disse Ishii, em uma das várias entrevistas, durante a semana. Ele mora em um apartamento de 70 m2, típico de classe média, em Curitiba. Há poucos móveis, as paredes são lisas, quase sem decoração.
Uma foto, de 1988 porém, chama a atenção: é a do time do Coritiba, que tem entre os mascotes um então menino – era Eduardo, o filho do agente, que morreu 17 anos depois.
Viúvo, Ishii vive com a filha e com o cachorro Zeca. Guarda fotos escoltando presos como Marcelo Odebrecht e falou sobre os mais de três anos em que atuou na Lava-Jato e a experiência de se tornar homem de confiança dos empresários que pararam atrás das grades e a vida de celebridade.
Ele admite: “Foram convites para frequentar áreas VIPs de shows sertanejos a camarotes das festas disputadas pelo Brasil; rejeitei todos”.
O “japonês” relata que já enfrentou situações mais graves do que prender poderosos. Na triste conjunção recorda a morte do filho que se suicidou em 2005, quando tinha 27 anos; e a perda mulher, que se deprimiu com a tragédia, teve um infarto fulminante e morreu em 2009.
O agente avalia que a família de Marcelo Odebrecht “recebeu um outro homem após a prisão”. Ishii conta que “quando o empresário chegou a Curitiba mal se comunicava com os demais, mas mudou o comportamento meses depois, passando a dar roupas, toalhas e utensílios de higiene pessoal para companheiros de cárcere com baixo poder aquisitivo que passavam pela PF”.
Alguns presos nunca chegaram a se aproximar do agente, como Cerveró, considerado por Ishii como “o mais complicado“.
Entrementes, o ex-ministro José Dirceu era chamado pelo chefe da carceragem de “preso profissional” e disciplinado. E o Antonio Palocci “é um dos poucos que nunca perdeu o autocontrole”.
O “japonês da federal” nega que usará a fama para se candidatar a cargos públicos, apesar de ter sido sondado por três partidos para disputar uma cadeira no Congresso. Ele abrirá, com um sócio, uma empresa de consultoria e segurança, mas não dá detalhes, não fala em possíveis clientes, nem em prospecções. “Nas próximas semanas só penso em descansar” – arremata
Fonte: EpaçoVital
Por: Sabatti Advogados
Publicado em: 3 de novembro de 2020
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